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«Há capatazes que chegam
a directores de jornais»

- 14-Feb-2006 - 15:14


«Corra-se com os medíocres e restaure-se a honra e a dignidade perdidas», diz Jorge Monteiro Alves

Numa entrevista explosiva ao Notícias Lusófonas, o Jornalista Jorge Monteiro Alves, ex-Editor de Política Internacional do Jornal de Notícias, (um dos maiores diários de Portugal), considera - entre outras opiniões de grande impacto – que a “margem de manobra dos Jornalistas está hoje mais do que coarctada” e que, no cumprimento das ordens dos patrões, “os directores-capatazes” de alguns importantes jornais põem os Jornalistas “num colete de forças”. Sobre este mesmo tema, que parece ser um tabu na sociedade portuguesa, publicaremos em breve uma outra entrevista igualmente explosiva com o Jornalista Carlos Narciso.


Por Jorge Castro

Notícias Lusófonas - Em Portugal assiste-se cada vez mais à discussão sobre Jornalistas e produtores de conteúdos. Faz sentido este tipo de discussão? Ou será que ela reflecte apenas a perda de poder profissional dos jornalistas?

Jorge Monteiro Alves - A produção de conteúdos é hoje uma realidade inquestionável associada à Comunicação Social, pois os media (designadamente os jornais) viram-se na obrigação de oferecer ou vender produtos associados ao seu principal objectivo na mira de captar audiências e não perder espaço para a concorrência. Infelizmente existe a tendência para associar produtores de conteúdos a jornalistas, o que é obviamente distinto. Neste capítulo, creio que os órgãos representantes da classe (nomeadamente o Sindicato) têm um papel importante na salvaguarda dos direitos dos jornalistas, designadamente no que diz respeito, por exemplo, a uma estrita atribuição das respectivas carteiras profissionais. Recordo que o número de carteiras mais do que quintuplicou nos últimos 20 anos, o que é absurdo.

NL - O Jornalismo português esteve em destaque com alguns casos mais mediáticos, como é exemplo o caso Casa Pia ou Apito Dourado. Pensa que, de uma forma geral, os jornalistas estiveram bem? Ou terão sido "manipulados" pela guerra das audiências/tiragens?

JMA - Estiveram muito mal. Hoje o jornalismo português está, salvo raras e honrosas excepções (como o caso do Público), entregue aos ditames do sensacionalismo. A culpa não é obviamente dos jornalistas, mas de quem os dirige, que têm de responder aos números das audiências. O caso atingiu repercussões mais negativas no caso dos audiovisuais. Para tanto basta ver o que é hoje o alinhamento dos telejornais. Infelizmente, hoje em dia até os incêndios já não são notícia em si - o que é relevante é ver o "repórter" rodeado de um mar de chamas. Seria da mais absoluta relevância que os possuidores de carteiras profissionais (abstenho-me de lhes chamar jornalistas) tirassem um curso acelerado para terem pelo menos conhecimentos mínimos do Código Deontológico que rege a actividade, ou pelo menos deveria regê-la, porque hoje em dia vale tudo, ou quase.

NL - Em Portugal assiste-se à concentração empresarial dos meios de comunicação social. Não significará isso que os jornalistas estão cada vez mais obrigados a "comer e calar"?

JMA -Sem dúvida, mas sejamos sinceros - sempre existiu (mesmo nos grandes órgãos de Comunicação Social outrora estatizados, como o JN e do DN, por exemplo) manipulação política. Contudo, se é verdade que a figura do chamado "comissário político" não era de todo estranha antes das privatizações, hoje o cenário está muito pior, pois não só esses "comissários" subsistem como também se assiste a um novo fenómeno - a chegada dos directores-capatazes, indivíduos mal-encarados e pior formados que gozam da confiança dos superpatrões que hoje controlam a Comunicação Social portuguesa e que têm os jornalistas metidos num colete de forças, sem qualquer margem de manobra e obrigados, de facto, a aceitarem toda a espécie de diatribes, sob o risco de serem pura e simplesmente colocados na prateleira ou, pior ainda, despedidos.

NL - As Universidades portuguesas continuam todos os anos a atirar para o mercado de trabalho centenas de jovens habilitados para o jornalismo. Não se estará antes a formar gente para o desemprego? Há mercado para tanta gente?

JMA -Claro que não. Os recém-licenciados, na sua maioria, estão condenados a fazer de tudo menos jornalismo. Penso que existem duas razões para isso: por um lado, em Portugal lê-se muito pouco, como se sabe; por outro lado, os cursos de Jornalismo deveriam ser ministrados apenas pelas universidades públicas, pois as privadas vêem o curso apenas como um negócio, aliás excelente, pois trata-se de cursos de papel e lápis, muito rentáveis. Se os licenciados são depois atirados para o desemprego, o problema será deles, jamais das universidades. Seria importante introduzir aqui mecanismos reguladores.

NL - Ainda sobre as Universidades. Os cursos de jornalismo (ou de comunicação) são recentes. O que pensa desses cursos? Preparam realmente os jovens, ou não passam de mais uma actividade comercial?

JMA -Como tive oportunidade de referir, creio que infelizmente serão pouco mais (e já estou a ser optimista.) que uma mera actividade comercial. Quanto aos cursos em si, são no mínimo questionáveis. Enquanto editor, tive oportunidade de supervisionar vários estágios e constatei o que era óbvio - que os recém-licenciados pouco ou nada sabiam sobre o efectivo exercício de jornalismo, para já não falar da mais absoluta ignorância sobre ética e deontologia, o que é lamentável. Creio que tal constatação advirá do facto dos corpos docentes de algumas chamadas "faculdades de Jornalismo" serem pura e simplesmente ridículos. Toda a espécie de gente ali dá aulas - salvo raras excepções, poucos são jornalistas e, mesmo quando o são, não estão habilitados para o fazer, trata-se de profissionais medíocres, sem provas dadas, que dispõem apenas de boas relações, o que lhes permite ocupar o lugar.

NL - Em Portugal assiste-se a uma nova realidade. Muitos jornalistas criam na Internet os seus próprios espaços. Quer isso dizer que nos órgãos onde trabalham não têm liberdade para escrever e, por isso, recorrem a essas alternativas?

JMA - Creio que sim. Ainda bem que a Internet ainda é regida pela democracia, resta saber até quando. De facto, a margem de manobra dos jornalistas está hoje mais do que coarctada e muitos profissionais sentem-se desencorajados, desanimados e, felizmente, recorrem a esse exercício de liberdade, a única lufada de ar fresco que ainda lhes é permitida.

NL - Em Portugal existem os Provedores do Leitor. Esse cargo faz sentido? Terão os Provedores real poder ou não passam de algo que apenas serve para credibilizar as Jornais junto dos leitores?

JMA - Em teoria faz sentido. Na prática é outra questão. É verdade que há provedores sérios, mas outros - mesmo nos grandes órgãos de comunicação - apenas o parecem, pois na prática não passam de caixas de ressonância dos ditames dos comissários/capatazes, encarregues de zelar pelos interesses dos partidos/empresários que controlam de facto a Comunicação Social portuguesa.

NL - Dizem-nos que em Portugal muitos dos textos assinados nos jornais o são por pessoas não habilitadas com a respectiva cédula ou carteira profissional. É verdade? Se sim, não deveria ser obrigatório estar habilitado? Se não, porque razão se fala nisso?

JMA - Não me horroriza, de forma alguma, que os jornais sejam espaços de liberdade. Aliás, colunas de muito boa qualidade são de autoria de não-jornalistas. Agora, uma questão é falarmos de colunas, de textos de opinião, outra questão é a matéria noticiosa ser abordada por toda a espécie de gente. Dizem os "mentideros", a propósito, que há capatazes que chegaram a directores de jornais (de grande jornais) sem estarem habilitados com a respectiva carteira, mas se o Sindicato o permite então a culpa é da classe, que a meu ver se defende muito mal e é a principal culpada dos males que a afligem.

NL - Em Portugal, o único organismo representativo dos Jornalistas é o respectivo Sindicato. Pensa ser útil a criação de uma Ordem dos Jornalistas?

JMA - É uma questão delicada. Vamos ver, uma ordem pressupõe que todos os seus integrantes sejam licenciados na área, certo? Se assim for, não faz sentido, pois grande número de jornalistas não o são. Por outro lado, porém, o Sindicato (salvo em raríssimas ocasiões) sempre andou a reboque de interesses partidários, o que prejudica naturalmente a defesa dos interesses da classe. Por que não uma terceira opção, um espaço de liberdade que se empenhasse de facto na defesa dos jornalistas?

NL - No vasto leque da Comunidade de Países de Língua Portuguesa faz-se, é claro, bom e mau jornalismo. O que se lhe oferece dizer sobre o exercício da profissão nos países da CPLP?

JMA - Tenho uma dupla opinião sobre o jornalismo na CPLP. A realidade luso-brasileira é distinta, pois trata-se de espaços democráticos e onde o exercício da profissão se pode processar, apesar de tudo, com algumas regras, o que permite o aparecimento de bom jornalismo, mais perceptível no Brasil do que em Portugal. Nos restantes espaços geográficos da comunidade, onde a democracia ou não existe ou é uma experiência recente, o exercício da actividade jornalística é quase heróico, pois está coarctado pelos respectivos regimes, o que não obsta a que apareçam exemplos de excelente jornalismo, o que é de louvar. Creio que com o tempo o cenário há-de melhorar, em virtude da (desejável) consolidação das regras democráticas.

NL - Algo mais?

JMA - Apenas um desejo - que se assista a um efectivo incremento da democracia, hoje tão desvirtuada, mesmo em Portugal, onde as assimetrias são cada vez mais evidentes, fruto de uma classe política desacreditada e de um empresariado mal formado. Creio que o jornalismo tem um papel crucial para a consolidação da democracia nos mais diversos quadrantes. Vivemos hoje num mundo difícil, sem dúvida, mas em vez de o olharmos de frente parece que estamos a fazer como as avestruzes. Já basta de medo! Corra-se com os medíocres e restaure-se a honra e a dignidade perdidas, só estas permitirão a restauração de uma efectiva liberdade.

Foto O Primeiro de Janeiro: Jorge Monteiro Alves na apresentação do seu livro “Nunca passes além do Drina”


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