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«Empresários portugueses
gostam pouco de arriscar»

- 4-Apr-2006 - 0:10

Eugénio Costa Almeida é um dos cidadãos angolano-portugueses que mais e melhor sabe da Lusofonia, entendida esta no seu mais lato e nobre sentido. Cada vez mais, para bem de todos nós, as suas opiniões sobre as temáticas lusófonas são incontornáveis. Nesta entrevista, a propósito da visita de José Sócrates a Angola, isso é bem visível. Diz o que tem de ser dito, custe o que custar a quem não gosta de ouvir algumas verdades. «Portugal e os empresários portugueses têm de acreditar que Angola é, neste momento, um dos únicos parceiros onde poderão encontrar oportunidades de negócio claros», afirma Eugénio Costa Almeida


Por Jorge Castro

Notícias Lusófonas – Considera importante a visita do primeiro-ministro português a Angola, nomeadamente em termos bilaterais?

Eugénio Costa Almeida – Sim, desde logo porque há já algum tempo que as cúpulas dos dois Governos – nem a nível presidencial – não se encontravam para analisar, com a periodicidade que seria desejável, as relações entre as duas Nações irmãs, principalmente quando, e isso foi evidente num Seminário a que, recentemente, tive a oportunidade de assistir e patrocinado pelo Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais e subordinado ao tema “Diplomacia, Cooperação e Negócios: o papel dos actores externos em Angola e Moçambique”, Portugal não tem aproveitado em toda a sua plenitude as oportunidades de negócio que Angola, enquanto Estado, enquanto Nação, tem oferecido nem se preocupar quão as mesmas poderiam ser fomentadas e incrementadas.

NL – Mas as relações não têm estado paradas...

ECA - É certo que tem havido, por parte de algumas entidades privadas, nomeadamente fundações e, ou associações, debates e intervenções onde participam – a espaços, reconheçamos, – autoridades dos dois países. Mas tem sido muito pouco para o incremento que se desejaria. De quem é a culpa? Sabe-se que onde há crise haverá culpados, mas, por norma, aquela morre sempre solteira… Por outro lado, não devemos esquecer que os portugueses – e isso, por acaso, também foi assinalado no citado seminário – nunca foram muito dados a grandes riscos, sejam económicos – salvo raríssimas e honrosas excepções – seja a nível político – salvo quando os interesses particulares se sobrepõem e há necessidade de, caso necessário, achincalhar terceiros…

NL - Refere-se à célebre opinião do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, sobre Jonas Savimbi?

ECA - A resposta parece-me implícita e não creio, nesta altura, que haja necessidade de proferir mais declarações sobre o assunto, já claramente escalpelizado neste órgão informativo e no Parlamento português. Neste momento, como em qualquer dado momento, o que interessam são sempre as relações Estado a Estado e não – nunca – as opiniões pessoais de um qualquer indivíduo mesmo que seja, ou tenha, algum cargo ministeriável. Os ministros e secretários de Estado passam mas os Estados e as Instituições ficam. E são estas que devem ser preservadas para que as relações bilaterais se mantenham sempre activas e cooperantes.

NL – Como interpreta a ida de uma importante comitiva de empresários?

ECA – Portugal, se não quiser perder o seu estatuto de parceiro importante – e isto não se deve às grandes trocas de relações entre os dois Estados, sejamos francos, – que ainda mantém junto de Angola, tem de começar por educar os seus empresários e ensiná-los que nos grandes riscos podem estar os grandes negócios. Portugal, e os empresários portugueses sabem, ou deveriam saber, que a língua e uma cultura comum ainda podem ser factores importantes numa primeira linha empresarial. Ou seja, o empresariado português – e essa foi outra das críticas ouvidas no Seminário – está mais vocacionado para o pequeno negócio que para aquele que envolva grandes investimentos e fornecimento de mais-valias para os países para onde vão; normalmente, os portugueses preferem criar empresas de construção civil ou agrícolas ou pequenas indústrias. Exceptua-se a banca.

NL – E não é bem isso que Angola precisa?

ECA - Ora os países novos querem desenvolvimento e esse faz-se com grandes indústrias, de preferência transformadoras quando, como no caso de Angola, aqueles possam ser produtores de matéria-prima, ou com empresas de ponta, como são as de telecomunicações ou as farmacêuticas. Daí não surpreender que na comitiva de Sócrates estejam empresários das maiores indústrias transformadoras portuguesas, de telecomunicações, da banca de investimentos, potenciais gestores e entidades ligadas ao sector farmacêutico e hospitalar. Não esqueçamos que Angola – pelo menos enquanto o petróleo estiver ao preço que está e não parece crível que possa descer, além de ter reservas reconhecidas até aos anos 20, a níveis actuais – não esqueçamos, dizia, que Angola é um país cujo crescimento económico tem sido exponencial e goza do apoio dos principais parceiros mundiais; caso dos EUA e da China, sabendo-se, agora, que o Japão voltou a olhar para Angola como um potencial e privilegiado parceiro económico.

NL – Por outras palavras. África sim, Europa nem tanto?

ECA - Portugal e os empresários portugueses têm de acreditar que Angola é, neste momento, um dos únicos parceiros onde poderão encontrar oportunidades de negócio claros. Diria mesmo, junto de todos os PALOP. De certeza que não será para a Europa comunitária, nomeadamente com a entrada dos últimos 10 Estados, que os portugueses poderão incrementar as suas relações económicas. Aqueles que estavam virados, quase exclusivamente para a UE, estão em situação precária e alguns estão na falência. E se considerarmos a concorrência quase desleal da China e de alguns países asiáticos – e porque não dizê-lo também entre os Estados comunitários – nas relações comerciais apresentando produtos a preços pouco competitivos para o tecido empresarial português, embora quase sempre apresentando esses produtos com qualidade questionável e a custos muito baixos devido a factores produtivos pouco claros ou mesmo esclavagistas, então dizemos tudo.

NL - Portugal ainda está a tempo de apanhar o comboio?

ECA - Como já atrás referi, os empresários portugueses, em regra, são pouco dados a grandes riscos. As excepções devem ser contadas pelos dedos de uma mão e não sei se não sobram. Relembrava aqui Américo Amorim que se aliou à Sonangol – por acaso uma empresa angolana – para, e ao contrário, entrar na estrutura capitalista de uma empresa portuguesa, a Galp. Por um lado, o sistema económico angolano não tem proporcionado grandes incentivos à sua entrada, situação que a nova lei de investimento parece querer fazer inverter essa situação. Foi criada, recentemente o ANIP para ajudar o investimento externo. Por outro lado ainda, a descapitalização de grande parte do empresários angolanos – e notem que falo e sublinho empresários, não outros – que ainda não podem ser parceiros activos como potenciais co-investidores para que os empresários portugueses não tenham – e a maioria não o quer – de aplicar, individualmente e na totalidade, o seu capital num país acabado de sair de uma grave crise militar e cujo o território ainda está muito minado (não esquecer que Angola está entre os mais – senão mesmo o mais – minados do Mundo). Acresce o facto do sistema político angolano ainda não estar totalmente clarificado – continua a faltar as eleições que legitime, de vez, um Governo credível – apesar do forte incentivo, recentemente recebido, do FMI. Aliado a tudo isso uma quase endémica situação de corrupção (pelo menos há países que reconhecem a sua existência).

NL – Se calhar é agora... ou o comboio já passou?

ECA - Tudo isso tem obstado a que os empresários portugueses – e só estes – se tenham mantido retraídos em investir no país que, nos dois últimos anos, mais tem crescido a nível mundial. Mas penso que a sua presença, a sua forte presença, em contraponto a outras actividades importantes, como a cultura e o turismo, poderá ser um empurrão para que ainda possa apanhar alguma das últimas carruagens do comboio de oportunidades de negócio que é Angola.

NL - Falou da presença chinesa nas relações com Angola. Como vê essas relações?

ECA - Em tempos escrevi um artigo sobre a presença chinesa, mais concretamente, sobre a nova estratégia chinesa para África onde questionava – e continuo a questionar – a cooperação chinesa e perguntava que esta não era mais que uma mera exportação de mão-de-obra barata contra o fornecimento do principal produto que a China ainda não produz, pelo menos em quantidades suficientes, para manter o seu nível de desenvolvimento económico: o petróleo. Fui largamente criticado pela análise então feita, mas mantenho o que na altura escrevi. Sabe-se que essa cooperação tem sido efectuada ao abrigo de acordos preferenciais – manda aqui a lei do mercado – que vai praticando com os seus principais parceiros e tendo por base, em regra e no caso angolano, o petróleo; no caso de Moçambique parece ser o gás e a possibilidade de entrar no capital da barragem de Cahora Bassa. Ora essa cooperação tem sido largamente questionada por quase todos os sectores económicos ocidentais, que não ver observam com bons olhos a reentrada da China em África, e por sectores internos do país. Estes, porque não sabem que são os trabalhadores que a China tem “exportado” para Angola. Já se constou que entre alguns dos que trabalham na recuperação da estrada Luanda-Lobito e no CFB estarão pessoas que a China deseja deixar lá ficar “esquecidos” quando as obras terminarem. Que tipos de pessoas serão essas, por certo que as autoridades angolanas deverão estar atentas. De uma coisa estarei certo. A China sempre foi conhecida por ter imensa paciência e quando menos se espera dá o “golpe fatal” aquilo a que chamo o “efeito Mahjong”. Ou seja, vai retirando do seu caminho, calma e paulatinamente, as peças teoricamente menos importantes e quando menos estamos à espera já está afirmada e consolidados os seus efeito e poder. Relembremos Tibete. O Mundo muito se agitou exigindo a autodeterminação e saída da China; esta não ligou e agora é o próprio Dalai Lama a não reclamar a separação da China. O embaixador angolano Assunção dos Anjos, no citado Seminário e sobre o “medo” da China, chegou, em ar de imagem cultural, perguntar quem teria medo de Virgínia Woolf. Pessoalmente, e já escrevi isso, não tenho medo de Virgínia; já o mesmo não posso dizer de Woolf (soando aqui como lobo/wolf).

NL – Como vê as relações entra o Partido Socialista e o MPLA?

ECA - Um dos grandes problemas dos partidos de esquerda portugueses tem sido, ou terá sido, o complexo da descolonização ou, mais concretamente, o complexo do neo-colonialismo. Em contra-ponto, e aqui relembro as palavras de Agostinho Neto, após a AD ter deixado o poder; para ele as relações com Portugal tornaram-se mais fortalecidas quando a direita e o centro-direita estiveram no poder. Segundo Neto, estes viam as relações com os ex-povos colonizados, quer na óptica de Estado a Estado quer, e principalmente, na óptica economicista, como relações bilaterais descomplexadas. Por outro lado, o PS até há relativamente pouco tempo estava dividido entre o apoio ao MPLA e à UNITA (e agora aqui aproveito para abrir um parênteses e perguntar a estes dois grandes – principais – movimentos/partidos angolanos e à FNLA, que ultimamente volta a estar em crise, quando aproveitam para devolver à História angolana, aquilo que lhe pertence, ou seja, as suas siglas e passam a utilizar nomes tipicamente partidários como se preza em países democráticos). Ainda assim, e por aquilo que, recentemente, procurei saber as relações entre as cúpulas dos dois partidos, e principalmente desde que a “facção” soarista perdeu parte do seu poder no PS, tem vindo a se incrementar sendo consideradas por certos sectores afectos aos dois partidos como excelentes. Não se estranha, por isso, que a comitiva chefiada por José Lello, a par dos representantes do Governo português, tenha estado em Luanda a preparar a visita de José Sócrates, quer através de contactos com as principais individualidades do MPLA quer mesmo com autoridades angolanas. Além de tudo mais, e segundo pude apurar, ambos já são companheiros na Internacional Socialista.


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