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Belmiro de Azevedo (Sonae) diz estar decepcionado com o Brasil
- 23-Jan-2004 - 23:00
O presidente do grupo português Sonae, Belmiro de Azevedo, está decepcionado com o Brasil devido à dificuldade de obtenção do retorno do investimento, escreve hoje em primeira página o jornal brasileiro Valor Económico.
"Estamos em situação altamente desvantajosa. Além do risco do país, não podemos recuperar os investimentos", sublinhou Belmiro de Azevedo em declarações ao jornal em Davos (Suíça), onde participou no Fórum Mundial de Economia.
Segundo o jornal, depois de uma rápida conversa com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio brasileiro, Luiz Fernando Furlan, o empresário português decidiu apresentar formalmente um documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva num encontro na próxima semana em Genebra.
"Temos compreensão com as dificuldades do Governo Lula, mas essa compreensão tem limites. Ela não paga os juros dos bancos", salientou Belmiro de Azevedo, lamentando que "o governo tem colocado um pé no acelerador e outro no travão".
"Agora queremos ver onde ele (o governo) vai colocar o pé", adiantou.
Segundo o empresário, o Brasil tem um sistema judicial deficiente, os encargos sociais são muito pesados, há uma sonegação dos concorrentes que deixa os seus negócios [da Sonae] em desvantagem e a política monetária do país também não ajuda.
"Desta forma, não há condições para retorno do investimento. Tivemos um retorno altamente negativo", referiu o presidente da Sonae, cujo grupo já investiu mais de 1,5 mil milhões de euros nos últimos nove anos no Brasil, onde estão entre 20 a 30 por cento dos seus negócios.
Belmiro de Azevedo sublinhou o facto de os novos investimentos terem vindo a diminuir no Brasil, acrescentando que não ficaria surpreso se esta tendência se agravasse.
"Não há negócios sustentáveis sem geração de riqueza", defendeu o empresário, salientando que "não há condições no Brasil para que isso aconteça".
O presidente do grupo Sonae criticou a política conservadora do Banco Central do Brasil, que esta semana, ao contrário do que era esperado pelo mercado, decidiu manter a taxa de juros (Selic) em 16,5 por cento.
"Entendo que o Banco Central queira controlar a inflação, mas essa política não pode continuar por muito tempo porque senão não há mais investimentos", adiantou o empresário.
Quando questionado sobre um eventual retirada da Sonae do mercado brasileiro, Belmiro de Azevedo escusou-se a responder, limitando-se a comentar de forma humorada que a esse tipo de pergunta não se responde.
Segundo o Valor Económico, há fortes rumores no Brasil de que a rede de supermercados da Sonae no mercado brasileiro poderá estar à venda.
Há dois anos, quando foi homenageado como o empresário português do ano pela Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, em São Paulo, Belmiro de Azevedo anunciara que a Sonae iria parar os investimentos no mercado brasileiro e aguardar os desenvolvimentos do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fundada em 1959, na Maia (Porto), a Sonae é actualmente um dos maiores grupos empresariais portugueses, com presença em cerca de 20 países e em várias áreas de negócio.
O grupo está presente no Brasil desde 1990 com o negócio de distribuição (Sonae Distribuição Brasil), em 1997 entra na indústria (Tafisa) e, mais recentemente, na imobiliária (Enplanta Engenharia).
Desde 1995, o grupo investiu mais de 1,5 mil milhões de euros em hipermercados, supermercados, indústria de derivados de madeira e centros comerciais, o que gerou cerca de 22 mil empregos directos e indirectos.
A rede de supermercados da Sonae no Brasil é líder de mercado na região Sul do país e, em 2002, foi considerada a quarta maior a nível nacional.
Actualmente, a Sonae tem cinco redes de supermercados e hipermercados: Big (iniciada em 1990 em Porto Alegre), Nacional (adquirida em 1999), Mercadorama (adquirida em 1998), Cândia (adquirida em 1998) e Maxxi Atacado (rede grossista criada a partir dos supermercados Macro Nacional, adquiridos em 1999).
O grupo controla actualmente 149 lojas no Brasil, entre as quais 47 hipermercados Big (nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo), 65 supermercados Nacional (no Rio Grande do Sul), 24 supermercados Mercadorama (Paraná e Santa Catarina), um supermercado Cândia (em São Paulo) e dez hipermercados Maxxi Atacado (Rio Grande do Sul e Paraná).
Além disso, o grupo possui ainda lojas especializadas, como a Hello! (de vestuário) e Eletroeletrónicos (de electrodomésticos e equipamentos electrónicos), bem como três Centros de Distribuição (nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo) e um centro de abate de gado, denominado Frigonal.
A Sonae tem ainda seis centros comerciais no Brasil, dos quais cinco no Estado de São Paulo e um no Distrito Federal de Brasília.
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