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Epidemia de Marburg ainda sem controlo e enfrenta problemas culturais
- 15-Apr-2005 - 14:24
A epidemia de febre hemorrágica provocada pelo vírus de Marburg na província angolana do Uíge ainda está por controlar e enfrenta problemas culturais, mas a situação tende a melhorar com envolvimento das autoridades tradicionais no esclarecimento das populações.
Por Francisco Ribeiro
enviado da Agência Lusa
"A epidemia ainda não está controlada, mas a situação agora está a melhorar", afirmou à Agência Lusa Nestor Ndayimirije, chefe da equipa de especialistas internacionais que está no Uíge a "ajudar Angola a ultrapassar esta crise".
Para este especialista em epidemiologia da Organização Mundial de Saúde (OMS), que já combateu várias epidemias em África, "o maior problema é a falta de resposta das populações", já que os métodos utilizados para combater o alastramento da doença contrariam hábitos culturais, criando dificuldades adicionais aos técnicos.
"Há muito medo. Ocorreram muitas mortes em pouco tempo e isso assustou as pessoas", disse Ndayimirije à Lusa, no Songo, um município da província do Uíge situado a cerca de 40 quilómetros da capital provincial, onde já se registaram 12 casos de febre hemorrágica, todos mortais.
O combate à epidemia está a ser assegurado por uma equipa de 40 especialistas internacionais da OMS, do Centro de Controlo de Doenças de Atlanta, EUA, e dos Médicos Sem Fronteiras, em colaboração com as autoridades angolanas.
Estes especialistas estão organizados em equipas móveis de vigilância epidemiológica, que se deslocam às comunidades para registar casos suspeitos, identificar cadáveres e acompanhar pessoas que tiveram contacto directo com os doentes, e equipas de se dedicam ao tratamento dos casos suspeitos.
Existem ainda equipas de controlo da epidemia, que asseguram o respeito pelas regras de segurança, e equipas de mobilização social, que integram antropólogos e são responsáveis pela sensibilização das populações.
Nestor Ndayimirije admitiu, no entanto, que os métodos utilizados para combater o alastramento da epidemia "são estranhos" para as populações da província, especialmente o isolamento dos doentes, que impede os familiares de os acompanharem.
O problema agrava-se ainda mais quando as regras de segurança colidem com a cultura tradicional das populações daquela região do norte de Angola, como é o caso dos funerais.
Na região do Uíge, os mortos são velados durante três dias, os cadáveres são lavados e as pessoas abraçam e beijam os mortos em sinal de carinho.
O combate à doença implica que nada disto possa ser feito, já que a pele do cadáver é um dos maiores meios de contágio com o vírus de Marburg.
Precisamente para explicar este problema às populações, Nestor Ndayimirije salientou a importância do papel que deve ser desempenhado pelas autoridades tradicionais, frisando que "o maior problema (no combate à doença) é de natureza cultural".
"É natural que as pessoas considerem estranho que as equipas cheguem à aldeia, metam o cadáver num saco, coloquem-no depois no caixão e o levem embora", afirmou.
"O envolvimento das populações é crucial para conseguir controlar a epidemia", destacou o especialista da OMS, acrescentando que a situação "tem vindo a melhorar" desde que o combate à doença começou a contar com a colaboração das autoridades tradicionais da região.
A questão do esclarecimento das populações foi também salientada por D. Francisco da Mata Mourisca, Bispo do Uíge, para quem "é preciso dizer às pessoas que têm que renunciar temporariamente à tradição de tratar o cadáver com carinho".
"É necessário que as populações sejam sensibilizadas para colaborarem com os agentes de saúde, pondo em prática as normas de segurança recomendadas. Temos que cortar o contágio", afirmou o bispo católico, admitindo que, na província do Uíge, "nem toda a gente está sensibilizada para este problema".
Esta situação explica, na perspectiva do bispo, os incidentes que ocorreram nos últimos dias em algumas localidades da província, onde a população se revoltou contra as equipas que procediam à remoção de cadáveres.
Por isso, D. Francisco da Mata Mourisca alertou para a necessidade das equipas internacionais actuarem com o máximo dos cuidados, sensibilizando as populações do Uíge e sem hostilizar os seus valores culturais.
Para o governador provincial do Uíge, António Bento Kangulo, esta é uma preocupação, já que "as crenças tradicionais estão a dificultar o combate à epidemia".
"O povo está habituado às suas crenças, o que estamos a fazer é sensibilizar as pessoas para a necessidade de serem tomadas algumas medidas que permitam evitar a propagação da epidemia", afirmou o governador.
Na província do Uíge está centralizado o foco desta epidemia do vírus de Marburg, que tem como vector o macaco verde.
Os últimos dados oficiais referem que nesta província do norte do país foram registados 215 casos, de que resultaram 198 mortos. A nível de todo o país, foram registados até quarta-feira 235 casos da doença de que resultaram 215 mortos.
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