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A sempre eterna Lusofonia perdeu um dos seus maiores
- 6-Feb-2003 - 13:00
José Craveirinha. A Lusofonia perdeu um dos seus maiores vultos. O seu maior defeito, dizia, era gostar dos portugueses
O poeta moçambicano José Craveirinha, considerado um dos maiores expoentes da literatura moçambicana, faleceu na madrugada de hoje na África do Sul, vítima de doença. José Craveirinha, 80 anos, recebeu em 1991 o prémio "Camões", da literatura portuguesa, pelo conjunto da sua obra literária. Natural de Lourenço Marques, hoje Maputo, onde nasceu a 28 de Maio de 1922, José Craveirinha tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) no princípio de Julho do ano passado, quando se encontrava na capital moçambicana, tendo sido internado de urgência numa clínica na África do Sul.
Regressara a sua casa em Novembro último, muito debilitado e remetido a uma cadeira de rodas.
José Craveirinha, distinguido em Portugal com o prémio Camões em 1991, dizia-se "aprendiz de poeta" e apontava como seu principal defeito "gostar dos portugueses".
O escritor e poeta, que começou por ser jornalista, iniciou a sua actividade profissional no jornal nacionalista Brado Africano, trabalhou depois no Notícias, Voz de Moçambique ou Notícias da Beira.
Craveirinha foi várias vezes distinguido pela sua obra, onde se destacam "Chibuto, Cântico a um Dio Catrame" e "Maria e a Babalaze de hienas".
Recebeu também condecorações dos presidentes português e moçambicano, Jorge Sampaio e Joaquim Chissano, respectivamente, apesar de ter dito um dia que o seu pior defeito era "gostar dos portugueses".
Em 1991 foi igualmente distinguido com o Prémio Camões.
No plano político, a militância na Frelimo a favor da independência levou-o em 1965 à prisão, onde teve como companheiro de cela o pintor Malangantana e o poeta Rui Nogar.
O escritor, um amigo íntimo de Samora Moisés Machel, primeiro presidente de Moçambique, fora homenageado numa cerimónia pública em 28 de Maio do ano passado, dia do seu aniversário, no país, que consagrou 2002 como "o ano do poeta José Craveirinha".
Galardoado também pela Associação dos Escritores Moçambicanos com o primeiro prémio "Vida Literária", José Craveirinha era vice-presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa.
UM GRANDE POETA DA LÍNGUA PORTUGUESA
O escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, lembrou hoje o seu amigo José Craveirinha, falecido de madrugada, como "um grande poeta da Língua Portuguesa", com uma "grande capacidade de entender o seu próprio povo".
Lamentando a "triste rotina de ver desaparecer os grandes vultos da cultura portuguesa", Saramago lamentou à Lusa o "golpe duro" que representa a morte do poeta moçambicano.
"É um golpe bastante duro, não só porque se trata de um grande poeta da nossa língua, mas também pelo facto de sermos amigos", disse.
Na obra de José Craveirinha, Prémio Camões em 1991, José Saramago destaca "a sua grande capacidade para entender o povo moçambicano e para expressar essa natureza de uma forma magnífica". "Ele tinha uma ironia requintada, um humor que se disfarçava a si próprio", disse à Lusa.
XANANA GUSMÃO LAMENTA PERDA DESTE PATRIMÓNIO
O presidente da República timorense, Xanana Gusmão, lamentou hoje, com "profundo pesar", a morte do "irmão e poeta" José Craveirinha, um "património" de todos os que adoptaram o português como língua oficial.
Numa carta enviada ao seu homólogo moçambicano, Joaquim Chissano, o chefe de Estado timorense expressa, em nome de Timor- Leste, as profundas condolências à família do poeta hoje falecido.
"O autodidacta, Pai da Mãe Negra que tão empenhadamente colaborou no +Brado Africano+, é património de todos os que adoptaram o Português como língua oficial e nela publicam e dão a conhecer o sentimento profundo das suas almas", escreve Xanana Gusmão na missiva.
"Craveirinha enriqueceu-nos a todos ao trazer à sua escrita os sentimentos e +sentires+ da moçambicanidade", sublinha, frisando que o luto sentido por Moçambique é "inteiramente partilhado por Timor-Leste".
O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, já lamentara também a morte de José Craveirinha, considerando-a "uma grande perda para a literatura de língua portuguesa".
"Era uma pessoa muito sensível em questões de auto- determinação e independência e sensível como poeta em questões humanas", disse à Agência Lusa, explicando ter privado várias vezes com o "intelectual" Craveirinha.
"Por mais incrível que possa parecer, descobrimos depois de vários contactos que ele tinha familiares aqui em Timor-Leste e um dos seus sobrinhos chegou a ser vice-presidente da Fretilin e primeiro-ministro deste país no tempo da luta", recordou à Lusa.
UMA LUZ QUE SE APAGA
A morte de José Craveirinha "é uma luz que se apaga" e é também a perda de uma "grande voz poética das literaturas africanas de língua portuguesa", no entender do escritor e ex-jornalista José Jorge Letria.
Numa reacção à morte, hoje de madrugada em Joanesburgo, do escritor moçambicano, José Jorge Letria lembrou à agência Lusa que "a morte de um poeta é sempre mais que a morte de um poeta", porque é a perda da "consciência crítica de um país", que no caso de Moçambique, disse, fará muita falta.
Para o escritor português, Craveirinha era um dos maiores poetas, um "poeta do amor, em largo sentido, um poeta romântico, que incorporou na sua obra não só o amor, mas também o sentido da individualidade que está ligado ao amar".
Craveirinha foi um poeta influenciado pela poesia europeia, "um poeta do Moçambique antes e depois da independência", pela qual lutou, adiantou.
José Jorge Letria recorda que quando foi editor do Jornal de Letras entrevistou Craveirinha sobre as preocupações culturais em Moçambique e que este lhe salientou como principal problema a falta de dicionários de língua portuguesa nas escolas e bibliotecas do seu país.
"Se o português um dia desaparecer de Moçambique, a minha poesia também morre", terá dito um dia José Craveirinha, que receava a possibilidade da língua portuguesa vir a ser posta de lado no seu país, recordou José Jorge Letria.
Foto: António Cotrim/Lusa

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