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  Cultura
«A FNLA corre o risco
de desaparecer»

- 16-Jan-2006 - 14:42

Carlinhos Zassala, um dos rostos mais conhecidos entre a classe intelectual angolana, afirma que a guerra destruiu o País e que as bases lançadas, a 11 de Novembro de 1975, para a construção de uma nação falharam e que por isso, 30 anos depois, o povo angolano ainda não é um povo feliz por não ver as necessidades, por mais básicas que sejam, satisfeitas. Militante da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e candidato à sua presidência, diz que a geração dos políticos que lutou para a libertação é egoísta por não dar, como era seu dever, espaço aos novos.


Por Jorge Eurico

Notícias Lusófonas – Carlinhos é um nome desproporcional ao físico que apresenta...

Carlinhos Zassala – (Risos) Este nome tem merecido muitos comentários. Vou-lhe contar a origem da História deste nome. Quando o meu pai estudava no Instituto Bíblico de Kibocolo, havia no livro da primeira classe um texto com o título “Carlinhos e as pombas”. O meu pai gostou do nome e logo que teve o seu primeiro filho, que sou eu, decidiu atribuir-me. É por isso que hoje sou o Carlinhos (Risos).

NL – O senhor é mais psicólogo ou político?

CZ – (Risos) Sou mais psicólogo, um académico emprestado à política.

NL – Em Angola já há a cultura de se consultar o psicólogo social?

CZ – Os mais solicitados, neste momento, são os psicólogos clínicos e os escolares. O psicólogo social ainda é ignorado. O País não deve ter mais de cinco psicólogos sociais.

NL – Trinta anos depois já se pode dizer que o angolano é um povo feliz?

CZ – A primeira questão que se deve colocar é se já podemos falar de uma nação angolana consolidada. Angola alcançou a independência em 1975. Os passos que deveriam levar Angola para a construção e consolidação de uma nova nação, acho que fracassaram. Fracassaram por que não foram lançadas as bases necessárias para que se construísse e se consolidasse a nação angolana. Sabe-se que o povo que ocupa o território chamado Angola é constituído por uma diversidade de vários povos. Porquê que as base não foram lançadas? Por que em primeiro lugar, a base da construção da cidadania de um povo é a Educação. Ora o sistema de educação não mereceu uma discussão ampla para que se determinasse que tipo de angolanos se queria. Seria através da definição do tipo de angolanos se pretendia que se iria estruturar o sistema de Educação. De tal maneira que não se pode afirmar que o povo angolano já seja feliz por que logo depois dos 14 anos da Luta de Libertação, caiu-se na guerra civil. Deve-se fazer um grande esforço para que o angolano seja um povo feliz, mas por enquanto esta felicidade está distante porque a maioria da população angolana anda frustrada por não conseguir satisfazer as suas necessidades básicas.

NL – Sente, enquanto intelectual, que fracassou ao não ter contribuído para o lançamento das bases necessárias para a construção e consolidação da nação angolana?

CZ – Não me posso considerar como parte dos intelectuais que fracassaram para que nos encontrássemos na situação em que nos encontramos hoje. Quando em 1976 regressei do exílio (porque passei quase 14 anos na República Democrática do Congo) a minha primeira preocupação foi a de saber qual era a situação da Psicologia em Angola. E constatei que não havia nenhuma tradição nenhuma tradição no campo da Psicologia. As únicas actividades que encontrei foi no Centro de Emprego de Luanda, mas esse centro desapareceu porque os testes que lá existiam foram roubados pelos dirigentes do Ministério do Trabalho. De forma que depois do desaparecimento do material que me refiro, a minha grande preocupação foi a de fazer o meu doutoramento em Psicologia e depois disso continuar a minha missão no País. Terminei e a minha formação em 1996 na Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil). No meu regresso, em 1996, ajudei a fundar a Associação Angolana de Psicólogos (AAP). Porquê que ajudei a fundar a AAP? Porque constatei que a profissão de psicólogo era desconhecida. E é uma profissão muito importante para um País como o nosso.

Os líderes africanos não investiram na psicologia

NL – Como caracteriza presentemente o angolano do ponto de vista psico-social?

CZ – O angolano está frustrado e vive de traumatismos porque o País não foi destruído apenas fisicamente, mas também mentalmente. Ainda não há condições de convivência entre o povo angolano por que até agora não é dada a devida importância à Psicologia Social que estuda a interacção humana.

NL – Porquê?

CZ – Porque não temos até agora muitos psicólogos sociais. E o pior é que em África não existem associações profissionais dos vários ramos como acontece em distintas partes do mundo. Devíamos ter no continente a associação africana dos Psicólogos Sociais. Porquê que defendo isso? Porque em 1935 quando o Governo norte-americano estava a confrontar-se com o problema do racismo, chamou os Psicólogos Sociais e investiu bastante no sentido de encontrarem soluções convista a encontrarem fórmulas para que o povo norte-americano pudesse viver de forma orgulhosa sem dificuldades baseadas na segregação racial. As pesquisas realizadas deram fruto. Por isso é que a América do Norte é considerada uma nação forte. O mesmo aconteceu na Europa quando as primeiras colónias começaram a tornar-se independentes. Então a mentalidade dos europeus que tinham vivido em África era diferente da daqueles que viviam na Europa. Os africanos começaram a invadir a Europa e isso criou problemas raciais. Também a Europa investiu na Psicologia Social no sentido de poder resolver o problema de conflitos entre os vários povos. A América Latina também investiu na Psicologia Social. Talvez seja por isso que não se tenha conhecimento de guerras civis de grande envergadura nestas regiões do mundo. Os líderes que levaram alguns países africanos à independência não investiram na Psicologia Social. É por isso que hoje em dia a convivência entre os povos africanos é difícil porque predominam vários factores como os rótulos, os estereótipos, as atitudes, etc. Só se pode conviver com os outros quando se tem capacidade de compreende-lo. A divulgação da Psicologia Social em África faz muita falta. Por isso os professores de Psicologia Social em África têm de fazer um grande esforço para criar uma associação pan-africana do ramo com o intuito de poderem ajudar os governantes a encontrarem a solução dos grandes problemas que hoje assolam as sociedades do continente.

NL – Há sinais que traduzam a vontade do Governo em investir na Psicologia Social?

CZ – Os governantes angolanos não dão importância à pesquisa científica.

NL – Porquê?

CZ – Penso que isso tem como factores o facto de as gerações que estiveram na base da libertação de Angola serem as mesmas que querem continuar a governar o País. Frantz Fanon dizia que a geração que liberta paga com sangue e a que constrói paga com suor. A geração que libertou o País deveria saber que devia passar o testemunho às novas gerações tendo em conta os seus conhecimentos e a nova dinâmica para que pudesse também contribuir na construção e consolidação da nação. Mas há um certo egoísmo. A geração que esteve na base da luta de libertação quer perpetuar o poder não dando espaço às novas gerações que podem ajudar a resolver os problemas de Angola. Deve haver um casamento entre a antiga e a nova geração. Só dessa forma se poderão lançar as premissas para o desenvolvimento.


Não existe vida social sem conflitos

NL – Que importância tem a Psicologia Social para que Angola possa ultrapassar as diferenças políticas, sociais, económicas, raciais e até mesmo culturais, existentes no sentido de se evitar num futuro próximo uma implosão social?

CZ – Existem preconceitos raciais, étnicos, religiosos, partidários e uma variedade de mentalidades que não facilitam a convivência entre os povos que hoje em dia constituem a nação angolana. Por isso a Psicologia Social deve jogar um papel importante a nível de todas as faculdades. Todo o estudante universitário deveria seguir uma cadeira de Psicologia Social tendo em conta a sua importância. Devia-se criar ao mesmo tempo um centro de atendimento comunitário para podermos demonstrar as consequências prejudiciais que existem no seio de um povo onde reina a discriminação. Porque infelizmente o homem não é uma máquina. Ora se não tivermos uma visão concreta sobre uma acção praticada por outrem, a interpretações podem ser várias. E essa variedade de interpretações provoca conflitos que nos levam a confrontações como as guerras civis. Não existe uma vida social sem conflito. Dizer que se vai acabar com o conflito é o mesmo que dizer que se vai acabar com a vida social. Temos que procurar os mecanismos mais adequados para podermos resolver esses conflitos.

NL – Quais são os mecanismos mais adequados?

CZ – Ter a capacidade de compreender o outro. Por exemplo, aqui no País, os bakongos devem saber como se constrói a personalidade dos kimbundos. Os kimbundos devem saber como se constrói a personalidade de um kwanhama. Os kwanhamas devem saber como se constrói a personalidade dos ovimbundos. Os ovimbundos devem saber como se constrói a personalidade tchokwe. Só conhecendo os outros é que a convivência será fácil.

NL – E isso acontece?

CZ – Não acontece. Tenho criticado, nas minhas lições de Psicologia Social, uma atitude muito negativa no nosso País, que é o problema da rotulação das pessoas. Hoje em dia há muita rotulação no campo político-partidário. A rotulação tem consequências prejudiciais tanto para quem rotula como para quem é rotulado. Quando se atribui um rótulo há um indivíduo, tudo o que este indivíduo poderá fazer não terá significado nenhum. Quer-se apenas confirmar o rótulo que se atribui ao indivíduo. E aquele que é rotulado através do fenómeno da auto-profecia também tenta ajustar-se ao rótulo que lhe foi atribuído. Hoje, por exemplo, quando rotulamos alguém como sendo UNITA, então onde quer que o encontremos só vimos UNITA. Está na sala de aulas como professor, é UNITA! Está a participar de uma conferência, é UNITA! Está numa reunião familiar, é UNITA! O ser-humano não é um objecto. Por isso não deve ser rotulado. O ser-humano é um actor e o mundo é uma peça teatral escrita por outras mãos. O ser-humano ocupa vários papéis ao longo da sua vida. Mesmo num só dia pode desempenhar vários papéis. Então a Psicologia Social demonstra qual é o prejuízo que causam os rótulos, os preconceitos, os estereótipos e as tendências cognitivas.

NL – Há a necessidade de existirem assessores no Governo versados em Psicologia Social?

CZ – O Governo não dá o devido valor aos professores universitários. Um professor titular devia ser automaticamente conselheiro de um ministro na área que domina. Mas existe um grande divórcio entre os governantes e os professores universitários. Por exemplo, sou especialista em matéria de Educação. Mas nunca fui convidado, como técnico, para uma reunião do Conselho Consultivo do Ministério da Educação. Quando é que poderei dar a minha contribuição? O mesmo se passa com a Psicologia Social em Angola!

NL – Não respondeu a pergunta. Por isso repito: há a necessidade de existirem de assessores no Governo versados em Psicologia Social?

CZ – A minha resposta é afirmativa.

NL – Caso isso não se verifique o que é que poderá acontecer?

CZ – Podemos caminhar para uma catástrofe psico-social! Por exemplo, há zonas residenciais segregadas.

NL – Quais são?

CZ – O Palanca é uma zona habitada predominantemente por bakongos. O Kikolo é uma zona habitada por ovimbundos. O Rangel é habitado por kimbundos.

NL – Isso é perigoso?

CZ – Isso acarreta o perigo de as pessoas continuarem a reforçar os seus preconceitos étnicos, o que não ajuda em nada na construção e consolidação da nação.

NL – Onde é que a Psicologia Social poderia entrar em cena para se evitar isso?

CZ – A Psicologia Social poderia demonstrar as consequências que poderão advir disso. Por exemplo, se existissem zonas integradas no nosso País, a “Sexta-feira Sangrenta” não teria acontecido. Mas como sabiam que naquela área (Palanca) há a concentração de um grupo etnolinguístico (bakongo), foram para lá e fizeram o que fizeram. Mas se houvesse uma mistura de vários povos, a “Sexta-feira Sangrenta” não teria tido lugar.

NL – A não atribuição da devida importância por parte do Governo à Psicologia Social pode levar a que um dia haja, por exemplo, um genocídio étnico no Ruanda?

CZ – Se não tomarmos medidas preventivas no sentido de evitarmos isso, corremos o risco de vivermos a mesma situação. Por isso, o Governo deve trabalhar no sentido de se evitar este tipo de acontecimentos.

Quem estava para substituir Agostinho Neto era um bakongo

NL – Comunga da ideia de que é a sociedade não está preparada para ver um kimbundo a presidir a UNITA, um ovimbundo a dirigir o MPLA ou um tchokwe à testa da FNLA?

CZ – Agostinho Neto lançou o slogan “De Cabinda ao Cunene um só povo, uma só não”. Mas como psicólogo social diria que não temos ainda em Angola um só povo e uma só não. Isso está reflectido na questão que acabo de colocar. Enquanto a forma de adesão a um partido não obedecer aos conhecimentos dos estatutos e do programa de sociedade desse partido, mas com base em situações emocionais (por estar lá o pai, o tio e pensar-se que aí vai progredir na vida social), então será difícil quebrarmos as fronteiras que hoje existem. É errado pensar que quando um partido teve como fundador alguém de um determinado grupo etnolinguístico, julgar que o partido pertence aquele grupo etnolinguístico. Quer dizer esse fenómeno só poderá acontecer quando se começar a considerar o outro como cidadão. Gostaria de lembrar que quando Agostinho Neto morreu quem estava para substitui-lo era Ambrósio Lukoki, que é bakongo.


NL – O senhor é militante da FNLA. Ngola Kabangu é kimbundo. Aceitá-lo-ia como presidente do seu partido?

CZ – Tem-se comentado que não há simpatias pelo irmão Ngola Kabangu por ser kimbundu. Isso não é verdade. Isso deve-se apenas ao seu desempenho. A FNLA já teve pessoas que ocuparam lugares de proa que não são bakongos. É o caso de Hendrick Vaal Neto, o velho Pio do Amaral Gourgel, Samuel Abrigada e que gozam de grande popularidade no seio da FNLA. Por isso, se Ngola Kabangu tivesse um bom desempenho, tendo em conta o facto dele permanecer junto do líder histórico, seria o militante indicado para substituir Holden Roberto.

NL – Porquê que há sempre confusão no seio dos partidos composto por pessoas do Norte e não se verifica o mesmo em partidos que tiveram como berço outros pontos do País?

CZ – Isso é fruto da carência existente no Norte, onde a população dedica-se mais ao comércio e a profissões liberais. Depois da independência, o Norte tornou-se uma das zonas mais retardadas do nosso País. Depois da abertura política em 1991, o MPLA deu dinheiro a algumas pessoas que poderiam criar partidos políticos que serviram de satélites do partido no poder. Por isso é que hoje em dia temos partidos constituídos por famílias, onde o pai é o presidente, a esposa a vice-presidente, o primeiro filho secretário-geral, o segundo filho secretário para as finanças e muitas vezes sem sede para trabalhar. Há factores sócio-culturas, mas sobretudo económicos que estão na base da confusão existente no seio dos partidos do Norte.

NL – O que é que lhe faz querer ser presidente da FNLA?

CZ – Foi a decisão tomada pelos militantes que concluíram que tinha perfil para ser presidente da FNLA. A FNLA não goza de um espírito democrático e não é um partido moderno em termos de organização e tolerância política. Sempre lutei contra o maniqueísmo no seu seio. A FNLA hoje é conotada como um partido de antigos combatentes e um partido que não pensa no seu rejuvenescimento é sinal de que está em vias de desaparecimento. Sempre combati o espírito machista no seio da FNLA. Contam-se aos dedos das mãos as mulheres que ocupam lugares de destaque no partido. Quero imprimir uma gestão moderna na FNLA.

O cartão de visitas de Carlinhos

Carlinhos Zassala é casado e pai de três filhos. Nasceu, às quatro horas da manhã, aos oito dias do mês de Julho de 1946 em Kibocolo (Uige). É doutorado em Psicologia Social e da Personalidade pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor titular da Universidade Agostinho Neto (UAN), presidente da Associação Angolana de Psicólogos (AAP), secretário-geral do Sindicato dos Professores do Ensino Superior e candidato à presidência da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).


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