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using defalts layout Sempre fui de opinião que, em democracia, nenhum povo pode, honestamente, queixar-se de um governo que é mau. Deve, isso sim, questionar-se a si próprio porque o elegeu. E agir em conformidade.

A juventude da nossa democracia também não pode constituir um eterna desculpa para a nossa falta de sentido de cidadania e já era tempo de percebermos que, em democracia, é o povo que tem o poder de decidir qual é o governo que quer ver a governar o seu país. Somos nós que o escolhemos. Mas essa atitude não se esgota num quadrado de papel que metemos por uma frincha para dentro de uma urna. Começa antes, através da participação e discussão do que quer para o seu país, e continua depois, com o poder que tem de não deixar que o governo escolha um caminho diverso daquele que foi traçado.

Vem isto a propósito das muitas críticas que ultimamente têm sido feitas à actuação do governo, passado que está o seu "estado de graça", um ano depois de ter sido eleito. Diz a União Europeia, dizem técnicos de economia e finanças de competência inquestionável que Portugal assim não vai lá. E o povo, que de finanças sabe o que cada vez menos fica no fim do mês, também diz que este governo não está bem.

Sejamos honestos: os portugueses deram uma inequívoca maioria a um governo sem conhecer o seu programa concreto para governar o país, baseados nas esperanças de José Sócrates. Não aumentar os impostos, criar 150 mil postos de trabalho, eram, entre outras, esperanças, mais ou menos providenciais, apresentadas como argumentos na campanha eleitoral.

Contados os votos os portugueses "comeram" logo com um aumento do IVA, o que fez aumentar todos os bens de que temos necessidade. Depois foi a gasolina, o gás, a electricidade, a água... enfim, tudo. E já se vai dizendo que não há a certeza de não haver necessidade de mais... Dos 150 mil postos de trabalho ainda não de viu nada, a não ser que os cerca de 3 mil nomeados pelo governo façam parte desse pacote.

Nas despesas do Estado não se vêem os cortes e a reforma da administração pública tem tempo porque sempre são para cima de 800 mil votantes.

O ministro das finanças vem dizer que daqui a dez anos não há reformas para ninguém, mas os projectos da OTA e do TGV são mesmo para avançar.

Apesar da falta de dinheiro para equilibrar as finanças do país, os bancos, que apresentaram lucros pornográficos para um país em crise profunda, continuam a pagar 15% de IRC sem que ninguém perceba porquê.

O ministro da economia diz que não se pode apertar muito com as empresas (as grandes, perceba-se) porque senão elas mudam-se para o estrangeiro!

Veio recentemente a público - e muito rapidamente desmentido - que o combate à corrupção e aos crimes de colarinho branco vão deixar de ser prioridade da polícia criminal...

Não é a maioria dos portugueses que vive dos seus salários que foge aos impostos. E, em contrapartida, fica sem centros de saúde, sem escolas, sem protecção policial, vai certamente pagar mais quando precisar de ir ao hospital, enfim... paga os impostos e deixa de ter serviços que estes deviam pagar, ou, na melhor das hipóteses, paga outra vez.

Se ao fim de quase 32 anos de vivência em regime democrático não sabemos que democracia (do grego demos, "povo", e kratos, "autoridade") é uma forma de organização política que reconhece a cada um dos membros da comunidade o direito de participar da direção e gestão dos assuntos públicos, então lembro-me da anedota do Juca Chaves e pergunto: Queixam-se de quê?


António J. Ribeiro