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Dos aspiradores à música nacional
- 5-May-2003 - 9:22
Quer perder um pouco de tempo com uma coisa perfeitamente inútil? Então aceite o meu desafio, que lhe deixará, por certo e no final, com uma sensação de estranheza profunda e mesmo de indignação. Perguntará: Como é que eu fui capaz de perder tempo com isto?
Se chegou ao segundo parágrafo, vou partir do pressuposto de que aceitou o desafio que lhe lancei. Pois ele é o seguinte: Imagine-me um vendedor de aspiradores. Imagine agora que me estou a dirigir a passo acelerado à porta da sua casa. Aproximo-me, bato à porta! Depois de me ter recebido, identifico-me e proponho-lhe uma demonstração gratuita do produto, em que, na teoria, lhe comprovaria as qualidades inegáveis de tão fabuloso aparelho doméstico. O prezado leitor aceita.
Já na sua sala e depois de ter montado o equipamento, com agilidade notável, começo então a demonstração. O produto, tido como um bom produto, foi dado como tendo qualidades incomparáveis no mercado e além de fazer uma limpeza profunda de todas as sujidades, tem ainda capacidade para eliminar ácaros e demais bicharada que invade colchões, sofás e carpetes.
Eis senão quando as coisas começam a correr profundamente mal. O aspirador não funciona à primeira (“um mau contacto, por certo” – justifico), durante o teste que decidimos fazer ao colchão da cama do seu filho, a “máquina” liberta um fluído estranho, que mancha irreparavelmente a cobertura do mesmo. Decidimos passar ao W.C., na esprança que aí as coisas funcionem... não funcionam!
Ora, o que podemos concluir deste role de situações menos agradáveis? Tirei algumas ilações: 1- Vou ser despedido; 2- O produto que nos querem fazer crer como bom, na realidade não passa de um “erro técnico”.
Perguntará, legitimamente: O que é que eu tenho a ver com esta conversa? Ou talvez: Que raio se passa na cabeça deste “tipo” (que sou eu)?
Pois bem, transporte esta converseta toda para a realidade do panorama musical português e para a discussão que tem existido em torno do suposto facto das rádios nacionais não passarem música portuguesa.
Em primeiro lugar e voltando aos aspiradores, eu, como consumidor, não posso, nunca, ser forçado a comprar um produto com o qual não me identifico. É uma questão de liberdade de expressão de base, que tem que ser garantida desde logo, sob pena de se cair numa tendência de censura facilitista e “fascizoide”. Se eu acho, que acho, que a generalidade da música nacional não tem qualidade, porque raio é que tenho que levar com ela no rádio do meu carro?
Mais, como profissional de rádio que sou, não consigo entender com que legitimidade é que senhores, portugueses, que cantam em inglês, me podem forçar a passar música portuguesa.
Mas de que português estamos nós a falar? Do que se fala por cá, ou do “português” que fala a rainha de Inglaterra?
A realidade é que as acusações são tão mais graves, porque são mentirosas. O problema dos “senhores da música” em Portugal não é o facto das rádios não passarem música nacional, mas antes a evidência de que algumas rádios, provavelmente as que as suas mentes “pseudo-intelectuais” escutam, não têm nas suas playlists uma tão vasta selecção de música cantada em português de Portugal, como eles desejariam
Com a posição tomada, os músicos em Portugal, mais não querem do que obter uma promoção gratuita, directa, eficaz e fácil dos seus trabalhos discográficos, para aumentarem as vendas e encherem a carteira. Pior, as rádios têm que passar a sua música, mas não obtêm dividendos dos resultados no mercado, ou será que estão dispostos a subsidiar as rádios, numa lógica proporcional: Mais discos – mais dinheiro para as rádios?
Não me posso calar também face à tremenda falta de respeito mostrada pelos tais “senhores”, que se “recusam” a entrar nas rádios que mais os respeitam: As rádios locais. É tecnicamente impossível entrevistar Pedro Abrunhosa numa rádio local, pois ele cede entrevistas nos hotéis. Luís Represas é inacessível. Paulo Gonzo não deve saber o que é uma rádio local. Querem mais? Sabiam que a maioria dos trabalhos discográficos editados, em português, e que podemos catalogar como de qualidade, não são oferecidos pelas editoras, como faria sentido, já que estamos a falar de promoção (publicidade pura e dura) gratuita, mas antes comprados pelas rádios?
Afinal, quem é que não respeita quem? Então e as rádios locais que têm selecções musicais compostas em 50, 60, 70, 80, 90, 100% por música portuguesa, em que lugar ficam?
Os artistas em Portugal têm que perceber que as rádios, se assim o entenderem, boicotam a música nacional, porque ninguém tem o direito de interferir na programação de orgãos de comunicação social livres, porque a música portuguesa, na sua maioria e repito, não presta, porque os músicos abusam das rádios, porque a sua conversa entristece locutores, jornalistas, técnicos e directores. O que eles precisam é da coragem de uns quantos para que em Portugal se comece a mostrar a qualidade da música que se vai fazendo, por exemplo, na Etiópia.
solitoes@hotmail.com

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