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«Crianças feiticeiras» curadas com jindungo a arder num quarto fechado
- 23-Oct-2008 - 19:04
Dezenas de crianças num quarto, fechado, com uma fogueira onde era queimado Jindungo (malagueta) era um dos métodos usados para libertar do "mal" as "crianças feiticeiras" que hoje foram resgatadas pela Polícia Nacional na capital angolana.
A descrição é feita por uma das pessoas que acompanhou a operação de resgate das 40 crianças acusadas de serem feiticeiras, que estavam retidas em duas igrejas ilegais no município do Sambizanga, em Luanda.
Pedindo o anonimato, este técnico da direcção provincial do Ministério da Assistência e Reinserção Social (MINARS), adiantou à Lusa que os locais onde estavam as crianças são pequenos e com velas constantemente acesas, libertando uma fumaça que impregnava todo o espaço, com os menores presentes, tornando o ar irrespirável.
Uma destas crianças tinha quatro dias quando foi entregue à igreja para ser "curada" e tem agora apenas um mês de idade, disse a mesma fonte. A mais velha tem 15 anos.
Foram detidas duas mulheres responsáveis pelas supostas igrejas onde as 40 crianças permaneciam: a Igreja de Revelação do Espírito Santo de Angola e Igreja Boa Fé, que são oriundas da província do Zaire, região onde os casos de crianças maltratadas sob acusação de serem feiticeiras são mais graves em Angola.
Ainda segundo o relato do técnico do MINARS, o tratamento para expurgar o "mal" do corpo das "crianças feiticeiras" consistia ainda em fazer golpes com lâminas no corpo das crianças, alegadamente para que pudesse "sair o mal".
Em resultado desta "cura", adiantou ainda a mesma fonte, pelo menos uma das crianças está em risco de perder os braços devido à gangrena que resultou destes golpes sem tratamento posterior.
Entre as 40 crianças, 29 (até aos oito anos de idade) estão no Lar Kuzola, um centro para jovens em dificuldades, e as restantes foram dispersas por outras casas de acolhimento.
Segundo o administrador do município do Sambizanga, José Tavares Ferreira, as crianças encontravam-se retidas no interior de duas casas que serviam de igrejas, na comuna do Ngola Kiluange (Sambizanga), em Luanda.
"As crianças sofreram maus-tratos, foram castigadas e isso vê-se no aspecto delas. Quatro estão hospitalizadas em estado grave porque foram encontradas com feridas a gangrenar", disse à Lusa José Tavares Ferreira.
De acordo com o administrador do Sambizanga, o processo de investigação que durou cerca de 15 dias, teve início depois de uma denúncia feita por populares residentes na zona.
Neste processo estiveram envolvidas as delegações provinciais dos ministérios da Justiça, da Assistência e Reinserção Social, da Cultura e o Instituto Nacional de Assuntos Religiosos.
O problema das crianças acusadas de feitiçaria ou serem feiticeiros assume em Angola proporções que as autoridades e o Instituto Nacional da Criança (INAC) admitem como grave.
As áreas geográficas onde as acusações de feitiçaria a crianças são mais significativas situam-se a norte do país, junto às fronteiras com a República Democrática do Congo e Congo-Brazzaville (países onde o problema é igualmente grave) nomeadamente o Uige, Zaire, as Lundas, Norte e Sul, e Cabinda.
O crescente surgimento de casos em Luanda resulta do facto de a guerra de 27 anos, que até 2002 assolou o país, ter obrigado milhares de famílias destas regiões a procurar refúgio na capital angolana.
Tanto o Governo como as organizações da sociedade civil e as igrejas, com destaque para a Católica, têm apostado no combate a estas práticas através de campanhas de sensibilização, criação de centros de acolhimento e ainda na perseguição aos autores dos crimes perpetrados contra as crianças.
Espancamentos, jejuns prolongados, queimaduras e enclausuramento em espaços exíguos são também "tratamentos" aplicados que as autoridades detectam quando resgatam crianças acusadas de feitiçaria.

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