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Mulheres vendem água em Moçambique para sobreviver
- 4-Jul-2009 - 21:39
No sul da província moçambicana de Manica, perto do Zimbábue, há mulheres a vender água para sobreviver. São quase todas viúvas, numa terra onde um só homem pode deixar, ao morrer, seis mulheres sem sustento.
Por André Catueira
da Agência Lusa
Estrada de Machaze, sul de Manica. Três dezenas de mulheres constroem uma longa fila de baldes junto do único mercado local, em frente ao terminal de autocarros.
São baldes de 20 litros de água que foram buscar a 20 quilómetros de Chitobe, a sede do distrito.
Em média diária conseguem vender dois baldes, a 10 meticais cada. Os 600 meticais mensais correspondem a cerca de um terço do salário mínimo local.
Além da venda de água, são mulheres sem outra ocupação, porque há vários anos que não chove em Machaze, o que impede a agricultura.
"Vender água foi a única alternativa que encontrei para sustentar os meus filhos. Às vezes vou pilar milho e faço trabalhos domésticos quando alguém me solicita", disse, em entrevista à Agência Lusa, Nfanei Tiwane, fisicamente jovem e que não sabe ao certo a sua idade.
Viúva desde 2006, Nfanei Tiwane tem de sustentar dois filhos menores e a sogra. O marido - um antigo mineiro na África do Sul - morreu há cinco anos por doenças relacionadas com a Sida.
Essa situação não é excepcional para Tiwane. Em Machaze, um distrito com poucos empregos locais e região tradicionalmente fornecedora de mineiros para a África do Sul, várias famílias são dirigidas por mulheres porque os maridos emigraram à procura de trabalho.
"A poligamia é um princípio cultural em Machaze. Há homens com até seis mulheres, que quando morrem deixam um leque de necessidades de sustento para elas", disse Eusébio Sixpenze, porta-voz do governo do distrito de Machaze.
O problema agrava-se ao somar-se o facto de as viúvas serem esquecidas em aspectos relativos ao direito de sucessão, herança e transmissão de bens, além de serem menosprezadas em várias práticas socioculturais nas comunidades, o que as coloca em situação de extrema pobreza.
A dependência de uma única fonte de receita expõe essas mulheres a elevados índices de abuso sexual e reduz o poder de negociação para uso de preservativo nas relações sexuais em troca de comida ou dinheiro.
Várias viúvas em Machaze são jovens (28 a 35 anos). Um estudo de 2008 do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre estado civil em Moçambique concluiu que as mulheres casam mais cedo do que os homens, facto que pode estar aliado à existência no país de muitas viúvas jovens.
Para minimizar a situação de pobreza e vulnerabilidade, organizações religiosas e da sociedade civil, além de ONG nacionais e estrangeiras, dão assistência e apoio alimentar a viúvas e crianças órfãs em Machaze.
"Vimos a necessidade de apoiar as viúvas, pois constituem um dos grupos vulneráveis e de risco. Elas são envolvidas em projectos de geração de rendimento, para as ensinar a sustentar futuramente as suas famílias", explicou o presidente da Associação dos Pequenos Madeireiros e Carpinteiros (Apemaca), Carlos Froi.
Actualmente, mais de 50 viúvas têm apoio direto da associação. Mais da metade está a ser formada em gestão de negócios.
"Enquanto os apoios não forem amplamente abrangentes, terei de continuar a vender água e ganhar o pouco para não matar de fome a minha família, pois todos dependemos deste negócio", concluiu Tiwane.

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