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«África começa a existir de uma maneira mais realno Brasil», afirma Mia Couto
- 30-Aug-2010 - 10:52
O continente africano já começa a existir de uma “maneira mais real” no Brasil, afirmou o escritor moçambicano Mia Couto, em sua breve passagem pelo Rio de Janeiro para participar no festival de cultura negra neste último fim-de-semana.
“A África era vista de uma maneira folclorizada e estereotipada. Era uma maneira de não ser vista”, disse à Lusa Mia Couto após participar de uma mesa redonda sobre literatura e cinema com o angolano José Eduardo Agualusa, os cineastas brasileiro, Cacá Diegues, e o moçambicano, Ruy Guerra.
Segundo Mia Couto, considerado um dos grandes escritores contemporâneos africanos de literatura de expressão portuguesa, o Brasil “proclamava intensamente” a sua relação histórica de matriz com a África, contudo, “a África que chegava o Brasil não correspondia aquilo que é hoje”. Um continente moderno, “com seus dinamismos culturais e históricos, e, sobretudo, com a sua diversidade”, argumentou o autor.
“É uma África que tem que se dizer no plural e não no singular”, defendeu.
Mia Couto discutiu ainda a dificuldade que encontra na tradução de suas obras.
“Estou condenado a ser um escritor de língua portuguesa”, afirmou ao referir que o seu trabalho é de “transcrição linguística e de recriação vocabular passando pela poesia”.
É difícil traduzir, admite o moçambicano que já foi distinguido pelo conjunto da sua obra com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e também recebeu o Prémio União Latina de Literaturas Românicas em 2007.
Segundo ele, não é apenas uma “questão técnica, é também como se traduzem esses universos culturais”, ressaltou.
“Todas as línguas são únicas, é um trabalho a nível poético. Aquilo que está nos meus textos é muito de uma oralidade que só na passagem para a escrita sofre choques. É realmente um desafio de recriação”, admitiu.
Sob a curadoria do escritor angolano Agualusa, o evento dedicado à cultura negra, o Back2Black Festival, ocorreu neste último fim-de-semana no Rio de Janeiro e contou com shows, exposições e debates sobre a matriz negra na cultura brasileira.
Durante três dias, o festival serviu de um ponto de encontro para a política, a cultura, a consciência social, a música, cinema e literatura.
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