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Ministro Educação renitente em reformular estratégia da língua
- 4-Dec-2003 - 15:18
O ministro da Educação timorense, Armindo Maia, mostrou-se hoje renitente em apoiar uma reforma da estratégia para os primeiros anos da educação primária, defendida por algumas estruturas internacionais e que passava pelo recurso a línguas locais timorenses.
Por António Sampaio
da Agência Lusa
Numa entrevista à Agência Lusa, por ocasião da reunião de parceiros de desenvolvimento de Timor-Leste, Maia considerou que apesar de concordar "em teoria" com a ideia, o projecto é impraticável, e "logística e financeiramente", impossível de implementar.
"É uma recomendação, mas a decisão final cabe ao governo. Tem-se falado nisso, pontualmente nos últimos anos, e apesar de não estarmos contra a teoria de que as línguas maternas ajudam a criança, sempre questionámos a sua viabilidade, especialmente financeira", disse Maia.
"É um debate académico e teoricamente não estou contra a ideia só que, francamente, em termos práticos é praticamente impossível", sustentou.
A proposta de uso das dezenas de línguas maternas timorenses, a par do tétum - a língua franca timorense - nos primeiros dois anos de escolaridade, adiando a utilização do português para mais tarde, reapareceu recentemente.
Apesar da ideia não ser nova, voltou a ganhar força, segundo fontes do sector educativo timorense, depois de pressões de estruturas como o Banco Mundial e a UNICEF, durante o 1º Congresso Nacional da Educação realizado no final de Outubro.
Fontes do sector educativo alegam que a UNICEF está a oferecer um "atractivo pacote financeiro" ao governo timorense, por forma a estimular a implementação desta ideia, o que a concretizar-se poderia complicar ainda mais o já complexo processo de reintrodução do português no país.
"Até pode haver apoio para dois anos mas e depois? Uma coisa é arranjar professores para duas línguas (tétum e português) outra é arranjar para 30. Além disso como garantiríamos padrões", disse Maia.
Entre a longa lista de recomendações do Congresso, uma das mais polémicas sugeria a revisão das políticas em vigor por forma a garantir a adopção de línguas maternas como língua de instrução nos primeiros anos do primário, com a introdução do português a surgir posteriormente de forma progressiva.
A avançar, esta medida representaria um volte face da política do governo, que determinou já a partir do ano escolar em curso, que começou em Outubro, o uso do português como língua docente nas escolas primárias.
Uma política que, segundo Armindo Maia, garante que pelo menos 80 por cento das escolas já o estarão a fazer com regularidade, embora continue a sentir-se falta de professores capazes de ensinar em português.
"As coisas tornam-se mais difíceis nas zonas rurais. E com o apoio do governo português estamos a tentar colmatar os problemas que permanecem", afirmou.
A reforma proposta tem vindo a suscitar alguma preocupação, especialmente junto de representantes do Brasil em Timor-Leste, que questionaram Armindo Maia sobre o assunto, em encontros sectoriais da educação para preparar a reunião de doadores.
O assunto acaba até por dominar as poucas referências que há ao sector educativo nos documentos do governo e do Banco Mundial preparados para a reunião de doadores, sendo aliás a única das medidas sugeridas no Congresso Nacional a merecer destaque.
O texto do governo timorense refere que o congresso encontrou consenso em várias questões "incluindo o uso da língua materna e/ou tétum, além do português, nos primeiros dois anos da escola primária".
O Banco Mundial apresenta uma versão ligeiramente diferente, sugerindo que a "adopção da língua materna como língua de instrução nos dois primeiros anos de escolaridade" seria seguida da introdução de "instrução bilingue nas duas línguas nacionais a partir do terceiro ano de educação básica".
"As recomendações do Congresso alimentarão a preparação da política educativa nacional para apresentação no Conselho de Ministros antes do final deste ano", refere o documento divulgado pelo Banco Mundial.
Armindo Maia diz nada ter a ver com o texto do Banco Mundial admitindo que, por falta de tempo, não pode contribuir "como desejava" para o texto do seu governo, cuja versão final foi preparada por funcionários do Ministério do Plano e Finanças.
O mesmo responsável garante que nas conversas informais que tem tido com as estruturas mais críticas da adopção do português, sente "uma maior aceitação" do que é "uma decisão do governo, reiterada na constituição".
A questão do ensino e uso do português em Timor-Leste tem sido dos aspectos mais polémicos da construção do Estado timorense.
Obstáculos criados por sectores da sociedade timorense e por estruturas internacionais, aliadas a problemas na estratégia de apoio de Portugal à política do governo timorense, contribuíram, segundo vários observadores, para "sucessivos problemas".
Hoje há sinais de melhorias, com os professores portugueses no país a formarem formadores em vez de alunos e indícios de maior participação nas aulas por parte dos "alunos" timorenses.
Ainda que a taxa de participação em alguns dos cursos de português seja de apenas 34 por cento, caso de aulas dadas a funcionários do próprio departamento de educação, noutros as médias ultrapassam os 80 por cento, chegando mesmo, no caso das forças de defesa, aos 100 por cento.
Ainda assim permanecem problemas com os docentes portugueses actualmente em Timor-Leste, a admitirem que a estratégia de apoio à introdução do português continua cheia de "buracos".
Como exemplo citam o facto dos professores timorenses que leccionam o primeiro nível de português a alunos timorenses terem recebido apenas 36 horas de formação "essencialmente pedagógica".
"Consideraram que não havia tempo para dar duas semanas", comenta um docente.
Igualmente questionado por alguns dos docentes é o recentemente publicado, e já parcialmente distribuído em Timor, novo manual de ensino, um texto intitulado "Português em Timor", que usa as duas línguas oficiais - português e tétum - para facilitar o trabalho dos docentes.
Críticos do modelo adoptado referem que o texto é feito em "tétum clássico" - um projecto de sistematizar o que é uma língua essencialmente oral mas que na prática é falada por uma fatia muito reduzida da população, fluente no intitulado "tétum praça".

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