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O mundo dos analfabetos que sabem ler e escrever
- 27-Sep-2004 - 12:52
Em Portugal existem aproximadamente um milhão de analfabetos! É o país da Europa com maior percentagem de pessoas que não sabem ler nem escrever (nove em cada cem portugueses). Segundo dados fornecidos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos) no seu mais recente relatório, apenas 20% dos portugueses atinge o ensino secundário, ficando-se a grande maioria pela escolaridade obrigatória. E pena não existirem dados sobre aqueles que sabem ler e escrever mas que continuam analfabetos.
Por Hugo Machado
Pois se existissem, talvez assim se conseguisse explicar a grelha de programação adoptada pelos canais generalistas de televisão. A atitude vegetativa da nossa juventude. O Algarve. Ou a cor das gravatas de Paulo Portas.
Na faculdade aprendi que os media são o reflexo da sociedade. E aprendi que não é pelo simples facto de se frequentar uma faculdade que se deixa de ser analfabeto. “Que barbaridade”, dirão os leitores mais precipitados. E pensarão: “Um analfabeto, é uma pessoa que não sabe ler nem escrever. Ponto final.”
Não é bem assim. Ler não é simplesmente descodificar um conjunto de palavras. E escrever é muito mais do que um modo de comunicação alternativo à fala. Ter esta percepção é o primeiro passo para se deixar de ser um analfabeto que sabe ler e escrever.
O segundo passo é perceber que existe um verdadeiro tsunami humano de analfabetos que sabem ler e escrever a corroer os pilares culturais em que se basearam as sociedades do mundo dito civilizado.
Um fenómeno que nasceu de uma ideia de massificação da educação apoiada num rebuscado conceito que defende que é preferível dar broa a muitos do que dar caviar a poucos. Como resultado desta política as pessoas que receberam broa (os famosos broeiros), muito mais numerosas do que as que receberam caviar, passaram a decidir os destinos deste país. Contingências de um sistema democrático.
É por terem esta noção bem presente que os noticiários se tornaram cada vez mais paternalistas. Afastando-se cada vez mais da sua função informativa para se aproximarem de uma função recreativa. Digna de uma qualquer actividade circense, com números que são servidos como notícias exploradoras de escândalos ou de situações de miséria. Que em ambos os casos apelam aos sentimentos primitivos do ser humano. Sejam eles a indignação ou o sentimentalismo.
Que interesse público tem o casamento do Joaquim e da Joana realizado no Estádio do Dragão? Ou uma confraternização de gémeos de Forquilha Ardente?
O ridículo atinge proporções tão gritantes ao ponto de se ir perguntar ao cidadão comum a melhor forma de se sair da crise! Uma opinião que ninguém leva a sério mas que parece vital para a saúde da pátria. Se ninguém leva a sério, para quê fazê-lo? Para fazer rir as pessoas que através do televisor estão coladas à espera da primeira asneira que saia da boca do entrevistado. Ridicularizar para divertir. Humor para analfabetos que sabem ler e escrever.
Não existem sociedades perfeitas. Pelo menos eu não conheço nenhuma. E a sociedade onde vivo é uma onda de conceitos e valores impingidos que à medida que avança vai ganhando uma proporção cada vez maior. A posição mais confortável é a adoptada pela maioria “broeiriana”: ir com a onda. O problema é que eu não quero ir com a onda. Quero furar a onda.
E alguém me faz companhia?

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