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  Cultura
Comunidade dos «rabelados» abre-se ao mundo com trabalho discográfico
- 6-Jan-2005 - 17:48


Um grupo de "rabelados", comunidade "fechada" assente numa ortodoxia religiosa própria, nascida em Cabo Verde, em 1940, por oposição à modernização da Igreja católica, gravou um CD com as suas ladainhas abrindo uma janela para o mundo.


Por: Ricardo Bordalo
da Agência Lusa

O trabalho discográfico, que representa uma profunda alteração à postura dos "rabelados" de Espinho Branco, ilha de Santiago, surge com o título "Cânticos Sagrados de Cabo Verde - A Litania dos Rabelados".

E é um dos frutos do trabalho de oito anos levado a cabo pela artista cabo-verdiana Misá Kouassi junto desta comunidade, profundamente idiossincrática.

Gravado no local por Eric Léveque, os "Cânticos" dos "rabelados", cuja tradução do crioulo para português significa rebelados, marca, segundo explicou à Agência Lusa Misá Kouassi, coordenadora do projecto, uma "etapa clara de transição da postura fechada desta comunidade para uma abertura igualmente óbvia", sem mexer com o seu olhar especioso sobre o sagrado.

A origem dos "rabelados" remonta ao início da década de 40 do século XX, quando a Igreja católica portuguesa impõe uma alteração à tradição do culto em uso em todo o arquipélago, recebendo a clara oposição desta comunidade.

Os chamados padres, "baptizados" localmente, de batina branca, da Congregação do Espírito Santo, chegaram por volta de 1942 para substituir os "padres di terra", ou de batina negra, alterando hábitos ancestrais, de onde se destaca a constituição de família pelos sacerdotes "di terra" ou, em português, da terra, ou ainda a recusa da dizima.

Misá Kouassi explicou à Lusa que, ao contrário da ideia generalizada, "não foram os "rabeladosÈ que alteraram hábitos, estes apenas os mantiveram", enquanto em seu redor os novos preceitos impostos pela Igreja oficial ganhavam terreno.

"Durante mais de 300 anos, a prática religiosa em Cabo Verde - ex-colónia portuguesa, até 1975 - era aquela que ainda hoje é seguida por esta comunidade", disse Misá, adiantando que os próprios "rabelados" renegam a designação porque defendem que quem se rebelou contra a prática religiosa de então "foi o mundo à sua volta".

Perante esta postura ortodoxa, a administração colonial portuguesa, em demanda de uma "nova evangelização", por vezes pela força, foi dispersando os membros desta comunidade pelas outras ilhas do arquipélago, que foram mesmo "perseguidos de forma violenta", havendo inclusive um esforço por criar "uma visão errada sobre eles de forma artificial", nomeadamente que eram pessoas violentas ou anti- sociais.

Ora, todo este olhar sobre os "rabelados" está em profunda alteração nos últimos anos, tendo, para isso, sido fundamental o trabalho de Misá Kouassi junto da comunidade.

"Hoje, estas pessoas já aceitam a luz eléctrica, o telefone, a escola para os seus filhos e até a televisão, mas com um controlo rigoroso sobre os programas que podem ou não ser vistos", detalhou a antropologa, pintora e poetisa que, agora, levou a cabo a tarefa de convencer os chefes da comunidade a aceitarem gravar as suas ladainhas sagradas em CD.

Devido à "mistificação que envolveu a comunidade dos "rabeladosÈ durante mais de meio século", Misá defende que a sua postura fechada é - era - um reflexo da intolerância para com os seus hábitos religiosos "e a defesa que destes faziam e fazem".

No texto que acompanha o CD "Cânticos Sagrados de Cabo Verde - Litania dos Rabelados", o chefe Agostinho, da comunidade de Espinho Branco, esclarece que "o resultado da doçura com que praticam a vida quotidiana também será o resultado do seu caminho celeste".

"Cabe-nos viver na caridade e aceitar o sofrimento para nos libertarmos das tendências más", destaca.

As ladainhas dos "rabelados" contidas no CD são, explica ainda Misá, citando o chefe Agostinho, uma súplica feita a um santo que foi santificado no céu perante Deus e que - por isso - é mais fácil ser atendido por Deus.

Perante este cenário, Misá sublinha que "é toda uma forma de olhar sobre este povo que está em profunda mudança", admitindo, todavia, que, para isso, contribuíram ainda algumas alterações à prática social aceites pelos "rabelados".

Para além do trabalho discográfico, Misá tem ainda um percurso de criação artística junto da comunidade, com exposições de pintura e escultura criadas pelos jovens Rabelados.

O próximo passo de Misá e dos seus colaboradores, oriundos de países tão distintos como o Japão, Suíça ou Portugal, é explicar ao mundo as diferentes etapas da infância e juventude desta comunidade e a forma como sucederam as várias diferenças no tempo.

Porém, Misá admite que, mesmo em Cabo Verde, ainda há um caminho a percorrer para que o olhar sobre os "rabelados" mude em conformidade com a "realidade" social e religiosa destes e a "sonoridade" com que o mundo "ouve" a sua "verdade".


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