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Não existe coragem política para pôr a CPLP em ordem
- 12-Jan-2003 - 0:05
Aquela coisa a que, com alguma boa vontade, se poderá chamar página oficial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa na Internet é, afinal, o espelho da própria CPLP
Ou seja, uma mão cheia de nada. Tem faltado é coragem para dizer que o rei vai nu. Mais. Não só vai nu como, de facto, nunca andou vestido. Politicamente correcto é, contudo, dizer o contrário. Por alguma razão, em Agosto do ano passado, o presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio, agradecia, «com amizade, a forma empenhada e dinâmica» como Dulce Pereira, então secretária-executiva, «exerceu o cargo sem dúvida exigente, de cujo correcto desempenho muito depende o harmonioso funcionamento da Comunidade.»
«Harmonioso funcionamento» que, ainda hoje, considera Portugal como potência administrante de Timor-Leste e o mais jovem país do mundo como território não-autónomo, actualmente sob administração das Nações Unidas?
«Harmonioso funcionamento» que ainda hoje diz que Timor-Leste está sob uma administração transitória da ONU - "sob a chefia do brasileiro Sérgio Vieira de Mello" -, obliterando da história do país tudo o que ocorreu desde o massacre de Santa Cruz, em 1991?
«Harmonioso funcionamento» quando a informação da página dedicada a Timor-Leste contradiz a própria página principal da CPLP que refere que a organização participou nos festejos da independência de Timor-Leste, a 20 de Maio?
«Harmonioso funcionamento» quando, segundo a página da CPLP na Internet, a constituição de Timor-Leste ainda não está pronta, apenas há quatro partidos e as Nações Unidas continuam "a considerar Portugal como potência administrante e Timor-Leste como território não-autónomo"?
«Harmonioso funcionamento» quando, depois de explicar que a administração de Vieira de Mello ainda governa Timor-Leste, refere-se que o "secretário-geral das Nações Unidas tem vindo a manter conversações, até agora inconclusivas, persistindo a Indonésia em negar o exercício do direito à autodeterminação dos timorenses"?
«Harmonioso funcionamento» quando o único link a funcionar na página de Timor-Leste, sob o nome de Xanana Gusmão, conduz a uma página onde está uma fotografia do chefe de Estado timorense e a frase única "biografia de Xanana Gusmão" que ali não aparece?
RECORDAR A INTERVENÇÃO DE JORGE SAMPAIO
Recordemos, contudo, o discurso de Jorge Sampaio na IV Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Agosto de 2002
«É com grande prazer que participo na IV Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, oportunidade privilegiada para efectuar um balanço crítico do caminho que percorremos ao longo destes últimos seis anos, mas também para traçar novas metas e linhas de orientação.»
Para que servirão metas e linhas de orientação para uma organização que só existe de jure?
«Apenas dois anos nos separam do nosso último encontro, em Maputo, e no entanto como é diferente o mundo em que hoje vivemos. Os acontecimentos de 11 de Setembro marcaram a cena internacional de forma indelével, criando um sentimento de vulnerabilidade e insegurança anteriormente desconhecido. Paradoxalmente, neste contexto difícil, as alianças e solidariedades ganharam um novo valor e a cooperação entre os Estados tomou-se, mais do que nunca, imprescindível. Num mundo em que o peso da globalização é cada vez maior e em que a ameaça terrorista se tomou numa constante, também a CPLP se viu assim revestida de uma nova dimensão, que as suas múltiplas vertentes de cooperação potenciam.»
É tudo quase verdade. Mas essa de dizer que a CPLP «se viu revestida de uma nova dimensão, que as suas múltiplas vertentes de cooperação potenciam», é claramente um tiro no pé ou um atestado de senilidade aos lusófonos. Basta ver com olhos de ver.
CONTRIBUTOS PARA O ANEDOTÁRIO LUSÓFONO
Depois de falar de coisas reais, Jorge Sampaio voltou a deixar-se tentar pelo anedotário lusófono e voltou à CPLP. Vejamos:
«Pensamos que a promoção e o ensino da Língua Portuguesa em Timor Leste, pela relevância de que se revestem para a afirmação do novo Estado, deverão merecer uma atenção muito especial por parte da CPLP, constituindo já uma das principais prioridades da Cooperação Portuguesa
Da cooperação portuguesa, talvez. Da CPLP é o que se continua a não ver.
«Lanço aqui um vivo apelo a todos os Estados Membros da Comunidade para que se associem a este esforço, tão importante para os nossos irmãos timorenses, mas também para todos nós, na medida em que, mais uma vez, da divulgação da Língua Portuguesa no mundo se trata».
Pois. Palavras para quê? Se alguém promove a língua portuguesa, a cooperação, a ajuda, a informação, a formação no seio dos países e comunidades que falam português, esse alguém não é, não foi e dificilmente será a CPLP.
«Fazer um balanço realista e desapaixonado dos seis anos de existência que já leva a nossa Comunidade não é tarefa fácil. Assistimos ao seu nascimento e tal como todos os pais tendem a relevar as faltas dos filhos, também para nós se toma difícil reconhecer os seus pontos fracos e é fácil cair na tentação de sobrevalorizar os menores progressos registados», afirmou Jorge Sampaio.
É verdade. A tentação de sobrevalorizar os pequenos progressos e não reconhecer os pontos fracos é grande. O problema está no facto de se entender a CPLP como um gigante (que, na verdade, poderia ser) e não reconhecer que ela é um pigmeu. E por muito que se sobrevalorize o pigmeu, nunca dele se fará um gigante.
«É indiscutível que a Comunidade goza hoje de uma projecção considerável na cena internacional, suscitando um interesse crescente por parte de países terceiros e de outras organizações internacionais. É também indiscutível que a CPLP ganhou uma dinâmica própria, alargando o âmbito da cooperação intra-comunitária aos mais diversificados sectores da actividade governamental e às mais importantes instituições do Estado. A actividade da Comunidade passou assim a desenvolver-se horizontalmente, ligando-se mais directamente ao quotidiano dos cidadãos dos seus Estados membros», disse o presidente português.
Estaremos a falar da mesma coisa? Ou, eventualmente, Jorge Sampaio já nessa altura confundiu o desejo com a realidade? Só pode...
UMA NO CRAVO E OUTRA NA FERRADURA
«Já na vertente da promoção e difusão da Língua Portuguesa, matriz comum e elemento unificador dos nossos povos, penso, muito realisticamente, que o caminho a percorrer é ainda longo, exigindo de todos nós, sem excepção, um esforço adicional.»
Estamos de acordo. No entanto, também é preciso dizer que o caminho a percorrer é tanto mais longo quanto se sabe, ou sabem alguns, que ainda não se saiu do ponto de partida.
«Há que estabelecer princípios orientadores claros para a actividade do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, dotando-o de quadros adequados e garantindo o seu financiamento. Há que racionalizar os meios de que dispomos, apostando de forma ousada nas virtualidades das modernas tecnologias da informação. Há, enfim, que estabelecer prioridades e critérios de avaliação rigorosos, introduzindo, também neste domínio, um elemento de exigência e responsabilização, indispensável aos avanços que todos desejamos».
Nem mais, senhor presidente. Há que... só que não há ninguém que se mostre capaz de dizer que assim mais vale acabar com a CPLP. A Lusofonia não pode passar os anos a sonhar, a idealizar. A Lusofonia precisa de 90% de transpiração e 10% de inspiração. E o que é que agora acontece? Exactamente o contrário.
«Existe ainda uma barreira entre o domínio da conceptualização e a aplicação prática das iniciativas que importa ultrapassar, garantindo que os mecanismos comunitários se tornem mais ágeis e efectivos».
Pois existe. E quando não existe essa barreira, alguém se encarrega de a mandar construir.
«Penso poder afirmar, com realismo e imparcialidade, que, no geral, o desempenho da CPLP, ao longo destes últimos seis anos, tem sido positivo. A Comunidade tem vindo progressivamente a afirmar-se nas suas múltiplas valências, prosseguindo com dinamismo os propósitos que estão na base da sua fundação e correspondendo, razoavelmente, às expectativas que nela depositamos».
Aí está. Como se diz em português, Jorge Sampaio optou por dar uma no cravo e outra na ferradura. Dizer que a CPLP tem correspondido às expectativas é, mais ou menos, como dizer que alguém é pintor só porque conhece as cores do arco íris. Quando será que se abandona o discurso politicamente correcto para, de uma vez por todas, dizer as verdades?
No papel, onde se encontra a esmagadora maioria dos projectos, poder-se-á dizer que a CPLP é a obra prima do Mestre. No terreno, dir-se-á que a CPLP não passa da prima do mestre de obras.
JORGE CASTRO
Foto: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

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